Estamos servindo em Moçambique e agradecemos a você que participa conosco desta missão:
* Intercedendo pela nossa família e ministério
* Contribuindo para o nosso sustento (Banco do Brasil, Agência: 7029-7, Conta corrente: 5464-X)

segunda-feira, 16 de março de 2015

Uma atividade de Deus menos comum

Anos atrás, em um pequeno quarto de hotel na Nigéria, numa noite de muito calor, eu escutava os conselhos de um homem de Deus que tinha muito interesse na minha vida e no meu chamado missionário e por isso havia me convidado para estar com ele por alguns dias na Nigéria.

Cada pergunta que ele fazia me ajudava a pensar sobre coisas importantes que eu precisava aprender sobre o que seria a vida no campo misionário.

Me lembro bem quando ele disse que no campo eu também iria precisar de tempo para coisas comuns do dia-a-dia, tais como fazer compras no mercado, ir à farmácia e ao banco, levar o carro no mecânico entre outras coisas.

Parece que eu estou aprendendo bem como fazer cada uma destas atividades numa nova cultura, exceto quando preciso de consertos no carro. Isto sempre me traz  preocupação. Talvez por ser algo que eu não domino e também pelas péssimas experièncias que eu e outros colegas já tivemos em diferentes oficinas mecânicas. Então cada necessidade nova de manutenção no carro parece um gigante que eu tenho que enfrentar.11048687_845455302179827_1566272909936398826_n

As condições de uso de carro aqui são extremas e os problemas mecânicos são muito frequentes.

imageNesta última semana eu dirigi por cerca de 4 horas em uma região muito isolada e muito distante de qualquer socorro mecânico. Na manhã do domingo dia 15 de março, eu saí de casa com a família e no caminho peguei a família do Pastor Nélio para juntos seguimos para a igreja na vila de Boane. Fomos e voltamos bem durante todo o caminho. Porém, quando entramos no portão da nossa casa, a roda do nosso carro caiu.

Mais do que um problema mecânico, isso era também um desafio para a minha fé. Eu deveria agradecer a Deus por Ele ter me livrado de uma dificuldade maior com o carro durante a semana enquanto eu estava no mato. E também por não ter havido nenhum problema na manhã deste domingo enquanto o carro estava lotado com duas famílias e longe de casa. Porém, a minha aflição em pensar nas dificuldades para o conserto do carro era maior que a vontade de agradecer a Deus por não ter acontecido algo pior.

Com o carro quebrado no portão de casa, e depois de uma longa manhã de domingo, agora só restava tempo para eu e minha família nos prepararmos para a visita de um jovem moçambicano que viria almoçar conosco. E assim foi feito. Recebemos o nosso visitante e almoçamos com ele. Ouvimos sobre como Deus tem abençoado a vida dele. Depois oramos juntos num momento muito especial. Mas na minha mente eu a todo o momento preocupado com o carro quebrado no portão de casa.

Depois que o nosso visitante foi embora, tomei fôlego e resolví procurar o dono de um guincho aqui na vizinhança. Consegui falar com ele por telefone e imediatamente ele veio ao meu encontro. Expliquei o problema e disse que tinha a necessidade de um serviço de reboque na manhã da segunda-feira para levar meu carro para uma oficina. Ele apenas disse “ah… talvez o problema do carro é simples e poderá ser reparado no local”. Ele nem sabia a situação em que se encontrava o meu carro. Para mim havia um grande problema, com parte da suspensão quebrada e a roda da frente caída.

Eu pensava nos compromissos que teria que adiar na segunda-feira e nos desafios para conseguir arrumar o carro. Mas também me sentia desafiado a confiar em Deus, pois Ele tem controle sobre todas as coisas.

Depois que o homem do guincho viu o meu carro ele afirmou: “Isso pode ser arrumado aqui mesmo. Tenho um jovem amigo que é mecânico. Vou ligar para ele agora”.

Em 5 minutos o mecânico chegou com mais um amigo. Imediatamente começaram a levantar o carro e a desmontar a roda e a suspensão. Depois de uma hora de serviço, tiraram a peça que precisava ser substituída. Então fizeram alguns contatos por telefone e conseguiram achar alguém que tinha a peça para vender. Seguimos juntos até o mercado da vila e encontramos a barraca da pessoa que vende peças de carro aberta num domingo a tarde. Negociamos o valor e compramos uma peça nova por um bom preço. Na volta para casa, descobri que o jovem mecânico é um irmão em Cristo.

Ele fez todo o serviço com muita prática e cobrou um preço justo. Em menos de 3 horas, e mesmo sendo um domingo a tarde, o carro estava consertado e pronto para andar novamente.

Toda esta história é uma grande surpresa para a minha família, para os meus colegas da missão e  para os irmãos moçambicanos. Para mim foi mais uma lição que me ajuda a aprender a confiar em Deus em todas as situações.

Me lembro de uma definição de J Frame sobre milagre. Ele diz que milagre é uma atividade de Deus, menos comum, que desperta o assombro e a surpresa nas pessoas e serve para dar testemunho do próprio Deus.

Para mim, o problema e o conserto do carro foram uma atividade de Deus menos comum.

Minha gratidão ao Deus que exerce um controle soberano sobre todos os aspectos da nossa vida.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Centro e Norte de Moçambique: rostos que estão radiantes de alegria

 

mapa edEu ainda estava no Brasil quando recebí do Pr Juka o convite para fazer a minha segunda  viagem para Mocuba, na província da Zambézia.

Desta vez era para participar do 1o Encontro de Líderes das Igrejas Palavra Viva da região Centro e Norte do país. Também haveria a graduação de 8 líderes da localidade de Muaquiua, que completaram 3 anos de estudos Bíblicos e capacitação ministerial. E tínhamos ainda planos de visitar algumas igrejas da região do Gurue, próximo à fronteira com o Malawi.

O número esperado de participantes para este encontro era em torno de 50 pessoas, que deveriam se deslocar de diversas regiões distantes da Zambézia, mas também das províncias do Niassa e Nampula (ver mapa).

Tal como dizem os moçambicanos, “as dificuldades nunca hão de faltar” e desta vez não foi diferente! Nas conversas por telefone com Pr Juka, ele me informava que havia dificuldades em relação aos custos que eram necessários para ajudar os participantes viajarem até o local do encontro, bem como a provisão de comida para alimentar todas as pessoas durante os dias do evento. Em algum momento, eu cheguei a sugerir para o Pr Juka o adiamento do encontro, mas ele me dizia: “Não podemos alterar este encontro! Precisamos seguir com o programa!”.

Era mesmo o plano de Deus que este encontro fosse realizado e agora posso compreender melhor o quanto Deus vem realizando na vida de tantos homens e mulheres que vivem em lugares tão remotos do Centro e Norte de Moçambique. São homens e mulheres do campo, que lutam com dificuldade para conseguir o sustento das suas famílias. Segundo as palavras do próprio Pr Juka, estes nossos irmãos e irmãs “são pessoas experimentadas no sofrimento”.

marioEste homem foi o discipulador dos graduados de Muaquiua (foto abaixo). Durante 3 anos o irmão Mário venceu grande distância para percorrer o trajeto entre a sua casa em Mocuba até a vila de Muaquiua. Enfretou fome, chuva, calor e passou por muitas dificuldades com a sua saúde, tudo isso para poder compartilhar a Palavra de Deus com estes homens. “Este é um compromisso que eu tenho com Deus e estas pessoas e devo cumprir”, dizia o irmão Mário, mesmo diante das adversidades.

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rosaMamã Rosa é esposa do Ir. Mário. Ela está sempre com sorriso lindo no rosto e tem uma alegria contagiante. É uma mulher que conheceu a Jesus e teve a sua vida transformada. Através da Palavra de Deus ganhou entendimento para uma dura realidade local. Agora ela tem lutado contra a tradição dos rituais de iniciação feminina que são regra naquela região e que mutilam e violetam muitas meninas. “Não pude impedir isso antes, mas agora entendo e não vou mais permitir essas práticas na minha família”.

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                  Irmão Supino, viveu de perto os horrores da sangranta guerra civil em Moçambique. Teve uma perna amputada pela explosão de uma mina e ficou gravemente ferido. Por causa da guerra e da sua situação, sua esposa o abandonou. Ele então passou a viver com uma outra mulher enquanto a ex-esposa também acabou indo viver em casa de outro homem. Muitos anos depois, ele recebeu a Palavra de Deus, conheceu a Jesus e perce-beu que precisava acertar a sua situação. Explicou o caso para a mulher com quem estava amasiado. Tomou coragem e foi falar com o homem que estava vivendo com sua ex-esposa. Deus cuidou de cada detalhe: a mulher com quem vivia amasiado decidiu ir embora. O homem que vivia com a ex-esposa  aceitou o pedido dele. Irmão Supino e sua verdadeira esposa já celebraram um novo casamento de reconciliação e estão juntos novamente, pela graça de Deus.

dinisPastor Dinis é o coor-denador das igrejas Palavra Viva na re-gião Centro e Norte do país. Ele e sua esposa, mamã Matilde, tem 3 filhos. O Joel é o mais velho e  enfren-ta muitos problemas de saúde. Os gê-meos, Denilson e Dinilson são um mila-gre de Deus na vida do casal. Depois de uma gravidez de risco, com sé-rias complicações e cerca de mais de 2 horas de carro distante de qualquer socorro médico, os gêmeos já completaram 1 ano e 4 meses e estão fortes e saudáveis.

A hospitalidade com que estas pessoas nos recebem, a disposição que têm de aprender mais da Palavra de Deus e a alegria contagiante de cada sorriso mostra que existe algo de diferente e especial na vida destes irmãos e irmãs, apesar das lutas e dificuldades que enfrentam.

Hoje eu entendí que eles são a comprovação daquilo que diz o Salmo 34:5 “Os que olham para Ele estão radiantes de alegria”. Uma alegria verdadeira que somente pode ser encontrada em Jesus!

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segunda-feira, 11 de março de 2013

Matchovana, Moçambique: uma lição sobre responsabilidade

 

Na noite de sábado eu ainda tinha dúvidas se deveria seguir para a igreja em Matchovana no domingo pela manhã.

A dúvida era porque a minha filha mais velha, ainda estava lutando com uma ferida no pé e precisava tomar a última dose de uma injeção bastante dolorida e por isso teríamos que procurar alguém para aplicar a injeção no domingo pela manhã. Mas decidimos em família que a minha esposa Fernanda cuidaria disso enquanto eu deveria seguir para Matchovana, onde tinha a responsabilidade de dirigir uma reunião dominical na nova igreja.

Chegando em Matchovana, aos poucos as pessoas foram aparecendo para iniciarmos a reunião que teve muitos cânticos, momentos de oração e testemunho, uma primeira mensagem Bíblica e finalmente a pregação.

Por causa de uma semana difícil que nós vínhamos enfrentando, especialmente na área da saúde eu estava muito cansado física e mentalmente. Mas aquela manhã de domingo em Matchovana era especial. Eu sabia que ali a Palavra de Deus estava sendo anunciada de uma maneira clara e compreensível para as pessoas.

Mesmo sem entender tudo o que se falava no dialeto local, eu podia compreender que a mensagem do Pr Abel, falava de Mateus 4:10b “Adore ao Senhor o seu Deus e só a Ele preste culto”. Pude entender também que ele apresentava Jesus como o exemplo de quem cumpriu fielmente a missão que o Pai lhe havia dado.

Mas eu não sabia que Deus ainda tinha algo muito importante para falar ao meu coração neste dia.

Tudo começou no final da reunião, quando o Pr Abel sugeriu 2 voluntários para ajudarem no próximo domingo. Uma pessoa ficaria responsável por dirigir o programa da reunião enquanto outra pessoa ficaria responsável por fazer uma leitura Bíblica.

Tal como acontece em tantas outras culturas, ninguém se dispôs voluntariamente. Foi assim que as pessoas começaram a apontar alguns nomes. E para a leitura Bíblica, todos sugeriram uma jovem, chamada Albertina.

Porém esta jovem se mostrou contrária à indicação do seu nome. Talvez por causa da sua timidez. Mas uma velha Senhora, a vovó Regina, que não falta em nenhuma reunião argumentou muito contra o posicionamento daquela jovem. Era o final de um culto abençoado e vovó Regina se mostrava muito zangada com a jovem que se recusava a fazer a leitura Bíblica no próximo domingo. Novamente eu não conseguia compreender tudo o que a vovó dizia no dialeto, porém apenas pensava que ela estava brava demais com uma jovem que apenas se recusava a fazer uma leitura.

Depois de muito falar alto e de maneira bastante brava, prevaleceu a autoridade da vovó. Assim a jovem Albertina não teve escolha e ficou com a responsabilidade de fazer a leitura Bíblica no próximo domingo.

Fomos despedidos pela população local com uma música que pedia para que Deus nos guardasse na viagem de volta para Maputo.

No caminho, comentei com o Pr Abel sobre a bronca que a vovó Regina havia dado na jovem Albertina. Eu já planejava dizer para o meu companheiro de viagem que eu não havia gostado da maneira tão dura com que a vovó se dirigiu àquela jovem tímida, na frente das demais pessoas. Mas antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, o Pr Abel me explicou que aquele era um assunto que dizia respeito à RESPONSABILIDADE que as pessoas devem ter umas para com as outras.

Neste caso, era sobre a responsabilidade que tinha uma jovem que podia ler em relação às demais pessoas daquela comunidade que não podiam ler.

O Pr Abel me contou que a vovó, dizia que uma vez que a jovem Albertina teve o privilégio de aprender a ler, ela tinha também a responsabilidade de fazer a leitura Bíblica para as demais pessoas que não podiam ler.

A vovó disse ainda para aquela jovem que se ela tivesse tido o privilégio de aprender a ler, ela nunca poderia se recusar desta responsabilidade para com as demais pessoas.

Lembrei-me que há muitos anos atrás eu comecei a aprender as minhas primeiras lições sobre responsabilidade. Já aprendí muitas coisas importantes sobre este assunto, mas nesta manhã de domingo ví que Deus ainda tinha algo muito precioso para me ensinar acerca da responsabilidade.

Eu pude então compreender o motivo daquelas palavras tão duras que a vovó havia falado para a jovem. Afinal de contas, a Albertina era alguém que naquela comunidade teve o privilégio de aprender a ler e por isso ela tinha uma responsabilidade para com as demais pessoas.

Comecei a pensar em como eu tenho sido privilegiado em tantas áreas da minha vida.

Lembrei dos muitos anos de estudo em excelentes escolas, das muitas conferências e congressos internacionais que eu participei, lembrei da minha graduação em uma excelente universidade, lembrei da minha pós graduação e dos meus anos de estudos intensivos no mestrado, lembrei das muitas oportunidades de viajar e conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes, lembrei dos bons livros que eu tenho, lembrei do mundo de informações que eu consigo acessar através da internet, etc.

E por algum tempo eu só conseguia escutar uma voz suave que dizia ao meu coração: Paulo, o que você tem feito com todos estes privilégios que você tem?

Chegando em casa, eu encontrei em 1Cr 15:22 uma pequena parte da história de um homem chamado Quenanias. Ele era chefe dos levitas e havia ficado encarregado dos cânticos. A Bíblia diz que “essa era sua responsabilidade, pois ele era capaz nisso.”

É verdade que eu e você somos capazes em muitas áreas, mas tenho pensado seriamente nas minhas responsabilidades e no que eu tenho feito com tantos privilégios recebidos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Matchovana, Moçambique: esperança de uma grande colheita

DSC01634Quando o trânsito para sair da cidade de Maputo está bom, o que nem sempre acontece, podemos chegar em Matchovana em cerca de 1 hora e meia de viagem. Mas geralmente levamos 2 horas e meia ou mais no trajeto da nossa casa até lá. Matchovana é o local onde chegamos depois de uma exploração que fizemos na província de Maputo com o objetivo de encontrar uma comunidade onde ainda não havia igrejas evangélicas. No mês de julho/2012 depois de andarmos por muitos lugares e já quase prestes a voltar para a casa sem muito sucesso no nosso trabalho de exploração do campo, encontramos numa estrada de terra 2 pessoas que vinham pelo caminho carregando galões de água numa pequena carroça. Paramos o carro e o Pr Abel desceu para saudar o homem e a velha senhora que se mostravam um pouco desconfiados da nossa presença. Falando no dialeto Xangana que é usado no Sul de Moçambique, o Pr Abel explicou a nossa presença ali e fez também algumas perguntas. Descobrimos então que a igreja mais próxima ficava a uma longa distância de caminhada.

DSC00168Dispostos a nos receber em uma nova visita, agendamos com estas duas pessoas um novo encontro onde poderíamos compartilhar com mais detalhes qual era a nossa missão para aquele local. No dia combinado para a reunião estavam presentes cerca de 15 pessoas, entre adultos e crianças. Talvez por causa da minha presença, um mulungo (branco), eles se mostraram muito interessados em saber o que nós tínhamos para oferecer, principalmente por que ali existem muitas dificuldades, como a falta de água, entre outras necessidades. Em relação à igreja, quiseram saber como seria o edifício que nós poderíamos construir. Mas o Pr Abel esclareceu que nós não estávamos ali para construir prédios, nem tínhamos condições para construir furos d´água. Nosso objetivo era estudarmos a Palavra de Deus com eles. Palavra esta que nós sabemos que tem poder para transformar vidas e também situações de escassez de recursos em lugar de abundância de recursos.

Devido ao interesse demonstrado pelos estudos bíblicos, ficou combinado que nos reuniríamos com eles às quartas-feiras. Mas isto não era o suficiente, pois ainda faltava conseguirmos uma autorização do chefe dos assuntos religiosos daquele local, pois somente assim poderíamos seguir com o plano de plantar uma igreja naquela comunidade. Depois de enfrentarmos algumas dificuldades com esta autorização, enfim recebemos a aprovação que nos daria condições para ir adiante.

Por causa do trabalho na machamba (lavoura), alguns dias as pessoas não chegavam para os estudos bíblicos. Outras vezes, precisamos esperar por cerca de 2 horas para chegar alguém que iria participar dos estudos. Mesmo com estas dificuldades, os estudos iam sendo realizados.

Com o passar do tempo, as pessoas perceberam a necessidade de termos um local mais apropriado para as nossas reuniões e num final de tarde, depois da realização do estudo bíbico, aquela Senhora que encontramos no caminho carregando água, na primeira vez que visitamos a região, decidiu oferecer uma área onde poderíamos limpar o mato e preparar o terreno para a realização dos estudos. Eu desconfiei um pouco de todo o entusiasmo daquela senhora que nos mostrava uma grande área que, segundo ela, poderia ser cedida para o trabalho da igreja que começava a nascer naquela comunidade. Eu tinha dúvida se aquelas terras seriam mesmo dela. E mesmo que as terras fossem dela, eu ainda tinha dúvidas se ela estava  disposta a ceder uma parte do terreno para uso da igreja. Mas outras pessoas confirmaram que aquelas terras pertenciam mesmo a ela.

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Então em um dia determinado, as pessoas se reuniram para abrir uma clareira naquela área que seria então o novo local das nossas reuniões. No dia marcado para o mutirão da limpeza dá área, aproveitamos também para projetar o filme Jesus e assim reunir o maior número possível de pessoas para ouvirem do Evangelho e serem convidadas para participar das reuniões da quarta-feira e agora também do domingo. Como sempre acontece, muitas pessoas chegaram para assistir o filme e responderam ‘sim’ ao convite para se entregar a Jesus, mas apenas alguns poucos voltaram no domingo para o culto. Sabemos que a escassez de árvores neste local e a falta de um teto para nos abrigar do sol e das chuvas do verão trazem muitas dificuldades.

Então, depois de alguns meses com o trabalho avançando lentamente, decidimos ter um dia para visitar as famílias da região e encorajá-las a participar das reuniões. Concordamos em fazer isso na tarde quente de uma quarta-feira e assim saímos de casa em direção a Matchovana. Chegando lá, a poeira levantadaDSC04081 pela passagem do nosso carro na estrada de terra e o barulho do motor anunciava para as crianças a nossa chegada. Elas sabiam que era tempo de correr para o local da reunião. Pelos atalhos no meio do mato elas conseguiam chegar na nossa frente. E aqueles rostinhos lindos, com sorrisos tímidos fazem sempre a melhor recepção de boas vindas que nós podemos ter.

Especialmente nesta quarta-feira em que iríamos andar para muitas visitas, o calor era intenso e o sol do verão africano era escaldante. Porém, uma vez mais eu tinha a certeza de que Deus me daria a oportunidade de ter uma nova e surpreendente ‘visão do campo’.

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Mana Laura e mana Luana, com alguns dias de férias na escola, aproveitaram para estar conosco nesta tarde e juntamente com minha esposa Fernanda ficaram responsáveis por um tempo especial com as crianças, enquanto eu e o Pr Abel, meu inseperável companheiro de viagem, seguiríamos pelas trilhas para as visitas.

A primeira trilha nos levaria  à casa da vovó Luiza. De lá seguiríamos para outros lugares. Na casa de vovó Luiza, levamos um par de muletas, doadas pelos nossos irmãos missionários Melvin e Sharon, com o objetivo de tentar ajudar o marido da vovó que não consegue andar por causa de um problema nas pernas. Mas foi impossível aquele senhor conseguir usar as muletas, uma vez que ele não tinha nenhuma força nas pernas. Depois de algumas tentativas fracassadas ele ainda insistiu em ficar com as muletas para aos poucos tentar utilizá-las. Oramos com ele e a sua família e a vovó Luiza seguiu como nossa guia pelas trilhas para chegarmos em outras casas.

O sol das 15 horas nos castigava. Mas ao ver a alegria e a disposição daquela senhora  em seguir conosco para as visitas muito me animava. Em cada família que passávamos, vovó Luiza parava para as tradicionais saudações moçambicanas e aproveitava também para convidar as pessoas para participar das reuniões. Ela falava sempre com a autoridade local de uma anciã.

Passamos ainda pelo sítio de uma mamã (senhora) que decidiu seguir conosco pelo caminho. Ela falava e ria muito por causa do efeito do álcool que havia consumido. Eu não conseguia entender nada do que ela me dizia em dialeto e como o Pr Abel não traduziu eu percebí que talvez fossem coisas que não merecessem ser traduzidas.

DSC02425Em um outro local, encontramos uma senhora que esteve conosco na reunião apenas uma vez. Ela disse que estava bem, juntamente com o seu marido e que o motivo de não comparecer às reuniões era apenas por causa da preguiça. O Pr Abel pediu que eu desse uma palavra para ela. Decidí então convidar outros dois homens que estavam sentados à sombra de uma peuqena cabana para também se aproximarem. Percebí que eles estavam embriagados e apenas um deles se interessou em chegar para ouvir o que eu tinha para dizer. Naquele momento, Deus me trouxe à memória o texto de Atos 14:15: “estamos trazendo boas novas para vocês, dizendo-lhes que se afastem dessas coisas vãs e se voltem para o Deus vivo, que fez o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há”. Eram poucas palavras que deveriam ser traduzidas para o dialeto deles mas expressavam uma mensagem de arrependimento e de salvação. Aquela mulher embriagada que nos seguiu por uma parte do caminho disse que já esteve nos caminhos de Deus, mas agora estava entregue ao mal. Aquele homem que estava sentado na sombra de uma cabana e que havia se aproximado disse que tinha sido batizado quando ainda era jovem. Ele reconhecia o poder de Deus, mas disse que estava andando longe dos caminhos do Senhor. Disse ainda ter consciência de que aquilo que estava fazendo era errado. Minha oração é para que o Espírito Santo possa convencer estas pessoas de que é chegado o tempo delas se arrependerem e se voltarem para Deus. Também oro para que a Igreja ‘Palavra Viva’ que está sendo plantada em Matchovana possa ser um lugar onde vidas sejam transformadas pelo poder do nome de Jesus.

DSC04784No longo caminho de volta pela trilha, passamos por uma plantação de milho. Eu convidei a vovó Luiza e o Pr Abel para parerem por um minuto e observarem comigo aquele campo que ia ficando para traz. Percebí que muitas vezes eu só podia ver as dificuldades do trabalho naquela região, mas nesta tarde quente, a ‘visão do campo’ que Deus queria me mostrar era da oportunidade de uma grande colheita que começava a ser preparada ali.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mocuba, Norte de Moçambique

É tempo de preparar as malas para mais uma viagem. Desta vez o meu destino é  Mocuba que fica na província da Zambézia. Mais de 1100 km de Maputo. Na bagagem, carrego a certeza de que Deus vai me dar a oportunidade de ter uma nova e magnífica “visão do campo”.

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DSC03788Meu contato no Norte do país é o Pr Juka, um irmão moçambicano que há mais de 3 anos se transferiu com a família de Maputo para Mocuba afim de coordenar um programa de Plantação de Igrejas nas Comunidades. Ele me convidou para ministrar um treinamento de liderança e também para participar da cerimônica de graduação de 16 líderes locais que completaram 3 anos de estudos bíblicos neste programa.

O primeiro encontro com os líderes moçambicanos foi numa manhã de sexta-feira, com um sol forte dando sinais de que este seria um dia de muito calor. Depois das devidas apresentações é hora de iniciarmos o treinamento que tinha como tema ‘mordomia’. Apesar da dificuldade que a maioria destes irmãos enfrenta com a leitura, todos se mostraram muito interessados em aprender mais sobre a Palavra de Deus.

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Além dos estudos, ouvimos testemunhos sobre aquilo que Deus tinha feito na vida de alguns destes irmãos.  Ouvimos o testemunho de um ex-curandeiro que entregou sua vida para Jesus. Ouvimos o testemunho de um homem que bebia muito, mas hoje está livre do vício do álcool pelo poder do sangue de Jesus.

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No dia seguinte, é chegado o momento tão esperado:  a cerimônia de graduação de um grupo de irmãos que vive próximo à fronteira com o Malawi. Certamente que ao longo dos anos estes irmãos enfrentaram muitas dificuldades para poderem receber os estudos com o objetivo de transmitir as verdades do Evangelho para o seu próprio povo. Um dia de muita alegria e para mim, de muito aprendizado!

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Deus ainda tinha mais coisas para me mostrar sobre este campo. Apesar de todas as dificuldades existentes nesta região, especialmente com a falta de água, eu e meus companheiros de viagem fomos presenteados pela igreja local com algo muito especial: cana de açúcar das suas próprias colheitas. Uma demonstração de amor e de gratidão pela nossa presença. Uma lição prática sobre generosidade: dar ao seu próximo, aquilo que você tem de melhor para oferecer.

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vc1  Conforme o texto de Provérbios 15:13, pude comprovar que “a alegria do coração, transparece no rosto” deste povo!

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sábado, 29 de setembro de 2012

Província de Inhambane, Moçambique

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Estive novamente na província de Inhambane, desta vez junto com o Pr Abel, sua esposa mamã Vitória e um jovem da igreja também chamado Abel. Chegamos ao anoitecer na nossa base que fica localizada na Vila de Quissíco, um lugar que abriga muitos adolescentes e jovens que deixaram suas famílias para morarem sozinhos nesta vila em busca de uma oportunidade de estudo.

As seis longas horas de Maputo até Inhambane são sempre uma boa oportunidade de conversar demoradamente com os meus companheiros de viagem. Falamos sobre o ministério, sobre as nossas vidas com Deus, sobre os desafios locais, sobre a cultura e sobre a nossa programação que desta vez incluia visita às igrejas, treinamento de liderança e projeção do filme Jesus em duas comunidades.

DSC03619A visão deste campo chamado Inhambane, toca profundamente o meu coração por diversos motivos. Primeiro pela alegria de reencontrar os irmãos e as irmãs que sempre nos recebem com muito amor cuidando de cada detalhe da nossa estadia, desde buscar a lenha para acender o fogo, buscar a água no poço para o nosso banho matinal e cuidar da preparação do alimento de cada dia.

Também por ver a disposição de um grupo de líderes leigos que vem de muito longe para participar de um programa de capacitação que inclui uma série de estudos sobre a Palavra de Deus. Estes encontros acontecem sempre à sombra de um cajueiro e muitos assuntos e dúvidas dos participantes podem ser esclarecidos com base Bíblica. Muitas questões dizem respeito aos costumes e tradições pagãs presentes na cultura africana.

DSC03633 Depois de um dia todo de treinamento, é tempo de seguirmos para uma das comunidades onde será exibido o filme que conta a história de Jesus. Mesmo com muito trabalho que ainda temos pela frente, a oportunidade de compartilharmos a mensagem do Evangelho através do filme  transmitido no dialeto local traz sempre a esperança de uma nova vida para mais pessoas.

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Ao anoitecer, muitas pessoas começam a chegar para assistir o filme. São homens, mulheres, jovens e crianças com olhares atentos em cada cena. Enquanto o filme é transmitido eu penso na minha vida, sobre como Deus me preparou para estar aqui neste lugar, também lembro-me com saudades de vários de vocês que devem estar lendo este relato neste momento e aproveito a escuridão da noite para orar agradecendo a Deus pela vida nova que um dia eu encontrei em Jesus. Não consigo imaginar o que este filme poderá significar na vida destas pessoas e talvez nunca vou chegar a conhecer o fruto da semente plantada nesta noite em um dos confins da Terra. Mas tenho a certeza de que algumas destas sementes vão cair em boa terra e frutificar.

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Exibição do Filme ‘Jesus’ em Moçambique

DSC02180 Fomos convidados pela Igreja Evangélica Palavra Viva (IEPV) do bairro T3 para participarmos em uma programação especial de Páscoa. Ficamos responsáveis por levar todos os equipamentos para a exibição do filme ‘Jesus’ que seria realizado na comunidade de São Damaso. Apesar de não conhecermos previamente todos os detalhes da programação, tínhamos a certeza que seria uma nova experiência para nós.   

Na véspera, carregamos o carro com os equipamentos de vídeo, de áudio, cabos e mais cabos, caixas, gerador e muito mais.

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No horário determinado, nos encontramos com outros irmãos da igreja de T3 que seguiram conosco para São Damaso, onde o filme seria exibido. Conseguimos, além de todos os equipamentos, colocar 9 pessoas no carro.  

No caminho, apesar do aperto e do desconforto por causa dos muitos buracos, os cânticos na Língua xangana animavam a todos.

Chegamos na comunidade de São Damaso e nos reunimos com as irmãs e irmãos da igreja local. Depois de algumas informações e de um momento para louvor e oração, era o tempo de sair e visitar as casas, convidando as pessoas a virem assistir o filme ‘Jesus’ no começo da noite. Enquanto isso, eu ajudava outros dois jovens a preparar todos os equipamentos para a exibição do filme.

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O sol quente da tarde indicava que o dia seria longo e meu corpo já dava sinal de cansaço. Mas ainda tínhamos muito trabalho pela frente, e eu orava para que este local pudesse estar cheio de gente a noite para conhecer a Jesus.

O final do dia chegou junto com um saboroso prato de comida moçambicana, feito à base de arroz, couve e leite de côco, preparado pela esposa do pastor.

Aos pouco as pessoas começaram a chegar: homens, mulheres, muitas crianças e jovens.

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Desta vez a ‘visão do campo’ foi a de uma linda noite de lua cheia com muitas pessoas conhecendo a ‘Jesus’ como o Salvador que deu a sua vida por amor de nós.

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No caminho de volta, quando chegamos na cidade fomos parados em uma blitz de trânsito. Geralmente a polícia tenta dificultar as coisas por aqui, mas enquanto o policial verificava a minha habilitação e os documentos do carro, as irmãs começaram um louvor em xangana e imediatamente o policial perguntou se estávamos vindo da igreja. “Sim, estamos vindo da igreja” eu respondí. Ele então devolveu os meus documentos e nos desejou uma boa noite e uma feliz Páscoa.

Eu só podia agradecer a Deus, por este dia tão especial.

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Aperta daqui, expreme dalí e sempre vai caber mais um!